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Apercebi-me de que na minha comunidade, muitas pessoas usavam muitas artes de pesca nocivas, destruindo os mangais e os peixes capturados eram demasiado pequenos… mas depois a Oikos deu-me a oportunidade de ser um activista” – disse Orlando Ahate.
O Orlando é proveniente de São João, uma pequena aldeia piscatória no distrito de Mossuril, na província de Nampula, Moçambique. Na sua comunidade, os meios de subsistência dependem do mar, mas as populações de peixes locais estão ameaçadas devido à pesca excessiva, pesca ilegal e insustentável, e degradação climática. Os activistas, ou colaboradores de programa de apoio à comunidade, como o Orlando estão a trabalhar na melhoria dos esforços de gestão das pescas liderados pela comunidade, com o apoio da Oikos – Cooperação e Desenvolvimento e Blue Ventures.
Os activistas mantêm uma ligação importante com a comunidade e dão voz para transmitir as necessidades dos pescadores. “Ser um activista, é ser um mensageiro comunitário; um voluntário com credibilidade e aceitação na comunidade” diz Orlando, “Estamos lá para apoiar a comunidade na resolução de problemas e na ligação com o governo, as ONGs e outras partes interessadas”.
No início deste mês, falei com um grupo de activistas de quatro aldeias de Mossuril e da Ilha de Moçambique. Na qualidade de Oficial de Pescas da Blue Ventures em Moçambique, tenho a responsabilidade de apoiar os nossos parceiros no país, incluindo a Oikos. Trabalho regularmente com os activistas, na recolha e análise de dados de pesca, também participo em reuniões comunitárias, portanto foi óptimo ouvir mais histórias deles.
“Fui vendedor de peixes e também membro do Conselho Comunitário de Pesca [Community Fishers Council or CCP], mas nos últimos tempos tem sido muito difícil comprar peixe. Passamos muito tempo à espera do pescador, mas quando eles aparecem, trazem peixe de baixa qualidade e em pequenas quantidades” – diz Muchamo Amisse, da aldeia de Lumbo.
A diminuição das populações de peixes é um problema que tem uma prevalência na pesca em pequena escala na região Oeste do Oceano Índico e esta zona de Moçambique não é excepção. Afonso, um activista de Chocas Mar, falou-me do pai dele, um pescador que foi forçado a aventurar-se mais longe da costa por períodos mais longos de tempo, sem garantias de regressar com capturas de peixe adequadas. Esta situação foi agravada pela COVID-19, o que reduziu o número de turistas que iam aos restaurantes em Chocas Mar, os principais consumidores de peixe.
“O meu pai é pescador. Nos tempos, ele conseguia apanhar grandes peixes junto à costa. Mas agora ele tem de percorrer longas distâncias por longos períodos de tempo apenas para regressar com pouco peixe… Sem pesca, não há vida nas nossas comunidades” – diz Afonso Canrithia, de Chocas Mar.
Entre os activistas há também mulheres como Sofia Abuderemane da aldeia Lumbo. As mulheres desenvolveram as suas próprias capacidades de comunicação, permitindo-lhes falar com os pescadores e aumentar a consciencialização para questões de gestão das pescas tais como o uso de artes de pesca sustentáveis e adequadas.
“Somos bem respeitadas na comunidade pelo nosso trabalho. Directa ou indirectamente, a minha comunidade notou mudanças positivas desde que passei a ser activista” – diz Sofia Abuderemane, da aldeia do Lumbo.
Em Setembro de 2020, a Oikos forneceu formação aos activistas em recolha de dados utilizando telemóveis, colhendo dados de peso do pescado, comprimento dos peixes e a fazer análise simples de dados. No distrito de Mossuril, dados recentes registaram uma mudança no tamanho e reaparecimento de espécies como Sala (Melanuria), Chamuanquela (São Pedro) e Mampura (Patanas ), que não apareciam nas capturas de peixe durante muito tempo. A análise dos dados pelos activistas atribuiu este facto, que as áreas de gestão comunitária levaram a um alastramento das populações de peixes para zonas de pesca abertas.
Estes conjuntos de competências permitiram aos activistas compreender melhor a sua pesca e ajudar as comunidades na tomada de decisões importantes acerca da gestão do meio marinho. Por exemplo, em Cabaceira Pequena, Chocas Mar e São João, foi possível as comunidades fazerem comparações de capturas de peixe de diferentes períodos, permitindo-lhes planear com êxito quando devem gerir os seus recursos. Este facto levou ao estabelecimento das áreas de gestão comunitária de peixes e polvos.
Antes da criação das área de gestão comunitária , o carapau não aparecia tanto e o número de polvos tinha diminuído, mas depois de estabelecimento da área de gestão comunitária , os dados recolhidos apresentam algumas melhorias; o Carapau e o polvo aumentaram enquanto o sala (Melanuria), que era pequeno, é agora grande” – diz Afonso Canrithia, de Chocas Mar.
Em resultado, os desenvolvimentos nestas três aldeias inspiraram outros activistas a trabalhar para estabelecer as áreas de gestão comunitária nas suas comunidades.
“Temos um bocadinho de inveja dos nossos colegas que vivem em comunidades que já estabeleceram as áreas de gestão comunitária , visto que ainda não estabelecemos na nossa comunidade e estamos a lutar para ter na nossa comunidade” – afirma Sofia Abuderemane, da aldeia Lumbo
Além de serem uma ligação vital para envolver as comunidades na gestão das pescas, os activistas apoiaram a Oikos na construção de uma sede do CCP para o distrito de Mossuril — eles já se vinham reunindo antes debaixo de árvores ou em casa do seu presidente. Em São João, a comunidade precisava de patrulhar a sua enorme zona de gestão comunitária, mas não tinha meios. Em Março de 2021, a Oikos possibilitou a compra de um barco, que está agora a ser utilizado pelos activistas locais e CCP para realizarem patrulhas nas áreas de gestão comunitária de forma mais eficiente nos centros Pesqueiros de São João, Cabaceira Pequena e Chocas Mar.
Na semana passada conseguimos patrulhar na nossa área de gestão comunitária e capturamos alguns pescadores que estavam a usar redes mosquiteiras e outros pescadores que estavam a usar atracções luminosas à noite” – comentaram Assumane Abudo e Saquina Atumane, de Cabaceira Pequena.
Durante toda a pandemia, os activistas também dedicaram tempo para consciencializar as suas próprias comunidades contra o COVID-19 forneceram sabão e água nos centros de pesca para a lavagem das mãos.
Algumas pessoas negavam usar máscaras, mas nós continuamos a sensibilizar elas e agora já passaram a usar as máscaras” – afirmou Palmira Aderito, de Chocas Mar.
Coloquei um balde com água e sabão no centro de pesca Mahiye Yangelezi para os pescadores e comerciantes lavarem as mãos” – disse Muchamo Amisse, da aldeia de Lumbo.
Conversar com os activistas mostrou-me como estes colaboradores são importantes para ajudar as comunidades a assumir a liderança na co-gestão das pescas. A colaboração entre eles e as comunidades das quais são representantes é fundamental para assegurar a sustentabilidade, a boa governação e o controlo e avaliação eficazes. No final, a esperança é de que as comunidades tenham competências e recursos necessários para gerir as pescarias de forma autónoma.
Gostava de continuar com essa boa colaboração entre os activistas e as comunidades, para ajudar os pescadores a deixar de utilizar quinia (redes mosquiteiras) e mpapara (redes de arrasto)” – diz Muchamo Amisse, da aldeia de Lumbo
Agradecemos aos activistas que partilharam as suas histórias comigo: Orlando Ahate e Atia Florindo de São João; Assumane Abudo e Saquina Atumane de Cabaceira Pequena; Afonso Canrithia e Palmira Aderito provenientes de Chocas Mar, e Muchamo Amisse e Sofia Abuderemane de Lumbo.
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